Tenho tentado algumas vezes regressar à escrita, ao lugar onde fui feliz. Frente a um teclado, num exercício sempre contra o tempo porque teimava em deixar para a última o que quer que tivesse para escrever. Era uma espécie de vertigem, de adrenalina que fazia disparar os sentidos e escrevia o texto do princípio ao fim, quase sem utilizar a tecla de backspace e, no fim, pouco revia o texto. Havia aquele gosto particular de conseguir escrever quase sempre o que sentia naquele momento, pois se ler passado umas horas ou um dia, já havia coisa que alterava.
Agora escrevo, normalmente, com tempo. Tempo para pensar, escolher as palavras que melhor traduzem o que pretendo dizer e usar a tecla de backspace – que odeio – mais vezes do que queria.
Querer, quero eu. Mais tempo para escrever, mais tempo para a fotografia, mais tempo para os bonsai e, principalmente, mais tempo de qualidade.
Sei que o passado de escrita me reservou momentos de dissabores, acusações falsas, insinuações baixinhas e tudo aquilo a que as pessoas que se expõem, hoje em dia, estão sujeitas. Retirei-me da escrita nos jornais e, depois, das redes sociais.
Falar de religião, futebol e política, dá sempre lugar a respostas zangadas, cheias de fel, de intolerância. Longe vão os tempos em que se discutia abertamente e com respeito pela opinião alheia, a política local. Em 2005, há quase 20 anos, o blogue Felgueiras 2005, estreou-se no comentário político aberto, com vários quadrantes políticos a escrever de forma aguerrida mas com respeito pela opinião do outro. Alguns jornalista asseguravam que os blogues não teriam muito tempo de vida e acertaram, não pelas razões de diziam, mas porque as redes sociais como o Facebook e Instagram elevaram a discussão e a notícia ao minuto, mas baixaram muito o nível da discussão.
Apenas saudosismo da escrita, ou vontade séria de escrever?
Vamos a ver.