Neste
momento Portugal perde com a Hungria por 3 a 2. Corrijo, está
empatado 3 a 3. Mas enquanto se decide se Portugal se apura ou não
para os oitavos de final, ficamos a saber há algumas horas que o
plano de recapitalização da CGD ficará por cerca de 5.000 milhões
de euros e não pelos 4.000 milhões. Ficamos a saber que o plano de
recuperação inclui a redução de 2.500 trabalhadores através de
rescisões amigáveis ou reforma antecipada, bem como ao encerramento
de 300 balcões, a maioria no estrangeiro. A grande parte do dinheiro
será para as chamadas imparidades, ou seja, para cobrir os calotes
que não têm qualquer tipo de garantia. E isto, mais do que Portugal
estar empatado a dez minutos do final da partida, preocupa-me.
Se
por um lado vi as bancadas do parlamento solicitarem e criarem
comissões de inquérito por causa de bancos privados como o BPN, BES
e BANIF porque, no final, quem paga é o contribuinte. Aqui, num
banco do estado de capitais públicos onde, aparentemente, o problema
terá as mesmas origens que os do privado, ou seja, as famosas
imparidades, as bancadas da esquerda (PS, BE e PCP) são contra a
criação de uma comissão de inquérito para apurar a gestão e de
que forma chegamos ao maior resgate bancário da história da nossa
democracia.
Ao
contrário do que argumenta a esquerda, não se trata de uma caça às
bruxas (o BPN também o foi?), de expor o banco ao mercado (o BANIF
também o foi?), mas sim de um apurar de responsabilidades a que
todos os gestores públicos estão sujeitos por lei, e de perceber
quem autorizou, como decorreu o processo, e com que garantias, foram
concedidos os créditos que resultaram nas incríveis perdas da CGD.
E o facto de termos o ex-primeiro ministro Sócrates e o seu braço
direito Armando Vara sentirem necessidade de virem a público prestar
“esclarecimentos” não é bom augúrio.
É
que eu, cidadão contribuinte, tenho o direito de saber de que forma
é que o banco do estado foi gerido, porque motivo chegou a este
ponto, e que, tal como nos bancos privados, sejam responsabilizados
os decisores, independentemente da sua orientação política.
Entretanto dizem-me na TV que estamos perante um país “aliviado”
e mostram-me um presidente da república a comentar o jogo na zona de
flash interview. Não sei como vocês se sentem, mas entre um
apuramento manhoso, um presidente que banaliza a palavra da
instituição Presidência da República e 5.000 milhões que nos vai
custar (para já) a CGD eu estou tudo menos aliviado.
[Expresso de Felgueiras, Ed.164]
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