Confesso que quase me
tornei um abstencionista nestas eleições. Desde que tenho o direito/dever de
votar apenas me abstive uma vez, no primeiro referendo sobre o aborto, por
estar longe do meu local de voto. Em todas as outras eleições votei porque é o
meu dever/obrigação, não deixar que outros escolham por mim e porque a
liberdade de votar custou ao país e a toda uma geração um preço muito elevado
para que hoje o possamos desperdiçar. Foi esse motivo, mais do qualquer outro,
que me levou a votar e não contribuir para a marca recorde de cerca de 70% de
abstenção.
Como eu, várias outras
pessoas nutriam o mesmo tipo de sentimento nestas eleições europeias. Foi mais
por descargo de consciência que uma verdadeira motivação. E porque motivo
tantos tiveram a mesma sensação e, muito mais ainda, não foram sequer votar?
As eleições europeias são,
habitualmente, aquelas em que a abstenção regista valores mais elevados, usada
como forma de protesto ou por desconhecimento dos temas e real alcance da
votação. A forma como as campanhas eleitorais são idealizadas levam a um
alheamento da maioria das pessoas dos assuntos europeus, mesmo sendo estas as
mais importantes eleições europeias desde que aderimos `U.E. em 1986. O Brexit,
a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, e com a U.E., a crise dos
refugiados, um sistema de defesa comum, a influência crescente da Rússia nos
estados ex-URRS até agora pró-Europa, são motivos mais do que suficientes para
não deixarmos a nossa escolha nas mãos de outros. E, se isto não bastar, que
sirva de argumento os 9 milhões de euros diários de fundos comunitários que
entraram em Portugal desde 1986. O mínimo era ir votar.
Quanto aos resultados
nacionais houve para todos os gostos. Os esperados e nada surpreendentes e os
verdadeiramente surpreendentes. A vitória do PS e a estagnação do PSD não foi
surpresa uma vez que as sondagens já vinham a apontar para estes resultados,
tal como a subida do BE só apanhou de surpresa os mais distraídos. Este braço
da geringonça não fez uma campanha pela negativa, procurou introduzir os temas
da europa na campanha, mesmo que pela rama, e não entrou nos ataques pessoais e
daí tirou benefícios. Depois as três surpresas da noite eleitoral: o CDS, o PCP
e o PAN. O último beneficiou do facto de entre os partidos mais pequenos ser
aquele que mais visibilidade tem pelo deputado eleito na Assembleia da
República, que se fez notar ao longo do mandato e beneficiou de um rótulo
(errado) de partido ambientalista que não o é, cativando o eleitorado mais
jovem e o mais preocupado com as questões ambientais. CDS e PCP foram os
grandes derrotados da noite ao perderem deputados. O CDS terá que se queixar
apenas do tipo de discurso de Cristas, demasiado centralizado nas questões
nacionais, num tipo de campanha do “bota abaixo”, que lhe valeu passar para a
quinta força política nacional, tal e qual o PCP que saiu fortemente penalizado
destas eleições. O segundo braço da geringonça pagou um preço elevado por ter
andado de mão dada com o governo. Os seus militantes não perdoaram o abandono
da estratégia do partido de protesto e das causas sociais.
A ver vamos se no tempo que falta para as legislativas se conseguirá mudar a forma de fazer campanha e, sobretudo, o posicionamento do discurso face ao eleitorado.
Expresso de Felgueiras
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