1.2.15

Habemus Syriza

Tal como esperado, o Syriza, partido da extrema esquerda, venceu as eleições democráticas gregas. O estado geral de euforia da esquerda portuguesa, que incluiu também o PS pela voz de António Costa, permitiu uns gritos de vitória e alento quanto a um resultado semelhante da esquerda por terras de Portugal, tentando, talvez, que as eleições gregas ajudem o PS a descolar do PSD nas intenções de voto como todos os socialistas esperavam ao dar a vitória a António Costa no golpe palaciano de que António Seguro foi vítima.
Mas, e há sempre um mas, os mercados não gostaram muito da vitória do Syriza nem das primeiras medidas de Tsipras, agora primeiro-ministro. Este decidiu aumentar o salário mínimo para 751 euros, fornecer eletricidade de forma gratuita a 300 mil famílias, parar a privatização do porto de Pireu e das companhias de eletricidade. As reações não se fizeram esperar. A bolsa grega vai com perdas esta semana de 32%, os juros da dívida aumentaram e o euro sofreu uma desvalorização face ao dólar para mínimos de há onze anos. Num país em que há milhares de funcionários públicos a mais nos serviços, onde alguns deles não aparecem ao trabalho há anos (!!) continuando a receber o salário, onde a subsídio dependência e a economia paralela têm um peso enorme, tais medidas vão precisar de muito dinheiro que a Grécia não tem.
E das duas uma, ou a Grécia opta por dizer não pagamos e sofre as consequências naturais do incumprimento e esgota o financiamento, ou vai aligeirar o discurso e colocar o ónus na “má europa” que não o deixaram fazer o que queria, e que esta foi a situação que os partidos do arco do poder lhe deixaram. Mas há um pequeno pormenor que pode ter escapado a alguns. É que uma das primeiras posições sobre as questões europeias que Tsipras tomou foi a propósito de um documento assinado pelo presidente do Conselho Europeu e pelos líderes europeus que condena e responsabiliza a Rússia pela escalada de violência e combates na Ucrânia ao darem apoio aos separatistas. Tsipras veio dizer que não estava de acordo com o documento (é conhecida a sua posição contra as sanções económicas aplicadas à Rússia) criando já um primeiro incidente que é tudo menos inocente. Se por um lado a Grécia está amarrada à europa e ao seu dinheiro, por outro a abertura à Rússia mostra que podem tentar financiamento noutro lado. E talvez a chantagem funcione. Nem a europa nem os seus aliados americanos querem um país amigo da Rússia mesmo no meio do continente europeu.
Mas Portugal não é a Grécia e os portugueses não fizeram os tremendos esforços para chegarmos a uma melhoria que já se verifica para agora cometerem uma loucura semelhante. É que normalmente as faturas dos devaneios da esquerda portuguesa são pagos pela direita desde que há democracia em Portugal e António Costa já anda a prometer tudo e mais alguma coisa de uma forma completamente irresponsável. A ver vamos daqui até às eleições portuguesas.
Expresso de Felgueiras, ed. 149, 28 jan 2015

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