Tal como esperado, o Syriza,
partido da extrema esquerda, venceu as eleições democráticas gregas. O estado
geral de euforia da esquerda portuguesa, que incluiu também o PS pela voz de
António Costa, permitiu uns gritos de vitória e alento quanto a um resultado
semelhante da esquerda por terras de Portugal, tentando, talvez, que as
eleições gregas ajudem o PS a descolar do PSD nas intenções de voto como todos
os socialistas esperavam ao dar a vitória a António Costa no golpe palaciano de
que António Seguro foi vítima.
Mas, e há sempre um mas, os
mercados não gostaram muito da vitória do Syriza nem das primeiras medidas de
Tsipras, agora primeiro-ministro. Este decidiu aumentar o salário mínimo para
751 euros, fornecer eletricidade de forma gratuita a 300 mil famílias, parar a
privatização do porto de Pireu e das companhias de eletricidade. As reações não
se fizeram esperar. A bolsa grega vai com perdas esta semana de 32%, os juros
da dívida aumentaram e o euro sofreu uma desvalorização face ao dólar para
mínimos de há onze anos. Num país em que há milhares de funcionários públicos a
mais nos serviços, onde alguns deles não aparecem ao trabalho há anos (!!)
continuando a receber o salário, onde a subsídio dependência e a economia
paralela têm um peso enorme, tais medidas vão precisar de muito dinheiro que a
Grécia não tem.
E das duas uma, ou a Grécia
opta por dizer não pagamos e sofre as consequências naturais do incumprimento e
esgota o financiamento, ou vai aligeirar o discurso e colocar o ónus na “má
europa” que não o deixaram fazer o que queria, e que esta foi a situação que os
partidos do arco do poder lhe deixaram. Mas há um pequeno pormenor que pode ter
escapado a alguns. É que uma das primeiras posições sobre as questões europeias
que Tsipras tomou foi a propósito de um documento assinado pelo presidente do
Conselho Europeu e pelos líderes europeus que condena e responsabiliza a Rússia
pela escalada de violência e combates na Ucrânia ao darem apoio aos
separatistas. Tsipras veio dizer que não estava de acordo com o documento (é
conhecida a sua posição contra as sanções económicas aplicadas à Rússia) criando
já um primeiro incidente que é tudo menos inocente. Se por um lado a Grécia
está amarrada à europa e ao seu dinheiro, por outro a abertura à Rússia mostra
que podem tentar financiamento noutro lado. E talvez a chantagem funcione. Nem
a europa nem os seus aliados americanos querem um país amigo da Rússia mesmo no
meio do continente europeu.
Mas Portugal não é a
Grécia e os portugueses não fizeram os tremendos esforços para chegarmos a uma
melhoria que já se verifica para agora cometerem uma loucura semelhante. É que
normalmente as faturas dos devaneios da esquerda portuguesa são pagos pela
direita desde que há democracia em Portugal e António Costa já anda a prometer
tudo e mais alguma coisa de uma forma completamente irresponsável. A ver vamos
daqui até às eleições portuguesas.
Expresso de Felgueiras, ed. 149, 28 jan 2015
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