"Todos defendem a coesão
territorial, mas quando chega a hora de a promover existe sempre quem utilize
bons argumentos para achar que este não é o momento, esta não é a opção”,
afirmou um membro do governo a propósito da reforma da política da água. Se sou,
por princípio, favorável à ideia da coesão territorial, por outro, porque se
trata de uma injustiça no caso específico da água e de ser sobre Felgueiras,
discordo completamente.
O Município de Felgueiras
aderiu às Águas do Douro e Paiva em 1996, por um período de 30 anos que termina
em 2026. Tal adesão obedeceu aos requisitos legais – aprovação em reunião da
Autarquia e Assembleia Municipal. Aquilo que se pretende agora é que através de
um decreto-lei, e na defesa da “coesão territorial”, se ultrapasse a forma mais
“exigente” de aprovação das participações das autarquias nas empresas,
levantando até questões quanto à sua eventual inconstitucionalidade e que
“todos” paguem o mesmo. Tal questão é tão mais grave pelo simples facto de, no
caso de Felgueiras, os seus munícipes poderem ver a água aumentar cerca de 40%
tudo em nome de uma “coesão territorial” que exclui a EPAL responsável pela
gestão das águas do município de Lisboa, facto desde logo incompreensível. Mas
não se pense que a questão fica apenas circunscrita a Felgueiras. Todos os
municípios do Tâmega e Sousa e do Porto, vão ser afetados com esta subida do
valor das águas.
Inácio Ribeiro, presidente
da autarquia felgueirense foi o primeiro a chamar à atenção para o problema,
tendo conversado com todos os presidentes de câmara da zona do Tâmega e Sousa e
com o presidente da área metropolitana do Porto, que manifestaram o acordo com
a posição deste. Para além da questão do cumprimento do contrato celebrado com
as Águas do Douro e Paiva que termina em 2026, há a questão Constitucional da
violação da forma de aprovação de novo contrato – a Constituição prevê a
autonomia das autarquias nesta matéria. Para além do já referido, Inácio
Ribeiro chama a atenção para um facto não menos importante. É que “as Águas do
Douro e Paiva é o único modelo de gestão de águas do país que dá resultados
positivos”. Há a necessidade de replicar este modelo para as outras empresas,
não contra a coesão territorial que é necessária, mas por isso mesmo aproveitar
o que de melhor é feito e não “contaminar” com os maus exemplos do resto do
país as empresas e municípios que pretendem custos mais baixos para bens tão
essenciais como a água.
Foi pena não termos visto a
oposição na Assembleia Municipal juntar-se a esta reivindicação, optando por
pequenas questiúnculas. Não sei se foi por esquecimento ou se por o município
de Lisboa ter ficado fora desta alteração, e o seu presidente de câmara António
Costa ser o candidato do PS às legislativas. É que convém não criar muitas
ondas a António Costa, o tsunami podia atingir a sede socialista de Felgueiras.
* Crónica de opinião, Edição 151 do Expresso de Felgueiras
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