Quarenta e um anos depois do
25 de abril de 74 e quarenta anos depois das primeiras eleições livres, temos
uma muito frágil democracia. Quatro décadas depois ainda há quem pense que o 25
de abril é “propriedade” dos homens e mulheres de esquerda, algo cativo, algo
que só a eles lhe pertence, tal como o miúdo do recreio, dono da bola, quando
se chateia ninguém mais joga. Nada de mais errado. O 25 de abril também foi
feito por muitos homens e mulheres de direita e centro-direita, a revolução
também foi feita por aqueles que regressaram forçados e despojados dos seus
bens, das antigas colónias, e que perante a critica de muitos apenas porque
existiam e que lhes podiam retirar o subsídio (sim, o hábito vem de longe)
tiveram que se fazer à vida e criar empresas, criar postos de trabalho, criar
riqueza e passarem a ser apelidados do “grande capital” e também foi feito
pelas Mulheres deste país.
O 25 de abril veio permitir
que a Mulher passasse daquele digno papel de doméstica, para uma trabalhadora
em quase todos os setores. Sabemos que com muitas dificuldades é certo, mas
vemos cada vez mais mulheres em lugares chave da administração central, nas
empresas privadas, as universidades têm muito mais mulheres que homens, são
independentes, focadas e determinadas. Mas já que isto acontece parece que
estamos num bom caminho, mas não. Se por um lado temos todos estes argumentos favoráveis,
a realidade é bem mais dura para a grande maioria das Mulheres portuguesas. Continua
a existir uma forte descriminação nos empregos de maior responsabilidade quer
seja porque a mulher pode decidir engravidar, ou já ter filhos que adoecem (é,
parece que os filhos das mulheres têm uma tendência para adoecer que os filhos
dos homens não têm), já para não falar na diferença salarial que existe entre
homens e mulheres para o exercício das mesmas tarefas e funções.
Muito dos nossos empresários
ainda não perceberam que ter uma mulher numa equipa de trabalho e com
responsabilidades é uma enorme vantagem. São mais focadas, mostram elevados
níveis de determinação, organização e método. Conseguem ser multifacetadas,
multitarefas e chegar ao final do dia e ainda ir cuidar da casa, dos filhos, do
cão, e do marido.
Ainda hoje ouvia na rádio
que as mulheres portuguesas dedicam no final de um dia de trabalho cerca de
quatro horas e meia a tarefas domésticas, contra apenas hora e meia dos homens.
Por isso são necessárias quotas para as mulheres na política, sendo eu
frontalmente contra a atribuição das quotas, não porque as mulheres não
mereçam, mas porque não seria necessário se já tivesse existido uma revolução
nas mentalidades. Se um homem se quer dedicar a uma carreira política não há
problema, a mulher fica em casa a tomar conta das operações. Mas se uma mulher
pretender fazer o mesmo, vai ter que arranjar forma de correr para fazer o
jantar, meter os miúdos na cama e sair para uma reunião política.
Em jeito de conclusão,
falamos de liberdades, de direitos, dos défices de democracia, e não se fala da
falta de igualdade de oportunidades e de uma verdadeira revolução de
mentalidades?
* Expresso de Felgueiras, Edição 152, 28 abril 2015
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