1.5.15

Vinte e cinco mulheres de abril

Quarenta e um anos depois do 25 de abril de 74 e quarenta anos depois das primeiras eleições livres, temos uma muito frágil democracia. Quatro décadas depois ainda há quem pense que o 25 de abril é “propriedade” dos homens e mulheres de esquerda, algo cativo, algo que só a eles lhe pertence, tal como o miúdo do recreio, dono da bola, quando se chateia ninguém mais joga. Nada de mais errado. O 25 de abril também foi feito por muitos homens e mulheres de direita e centro-direita, a revolução também foi feita por aqueles que regressaram forçados e despojados dos seus bens, das antigas colónias, e que perante a critica de muitos apenas porque existiam e que lhes podiam retirar o subsídio (sim, o hábito vem de longe) tiveram que se fazer à vida e criar empresas, criar postos de trabalho, criar riqueza e passarem a ser apelidados do “grande capital” e também foi feito pelas Mulheres deste país.
O 25 de abril veio permitir que a Mulher passasse daquele digno papel de doméstica, para uma trabalhadora em quase todos os setores. Sabemos que com muitas dificuldades é certo, mas vemos cada vez mais mulheres em lugares chave da administração central, nas empresas privadas, as universidades têm muito mais mulheres que homens, são independentes, focadas e determinadas. Mas já que isto acontece parece que estamos num bom caminho, mas não. Se por um lado temos todos estes argumentos favoráveis, a realidade é bem mais dura para a grande maioria das Mulheres portuguesas. Continua a existir uma forte descriminação nos empregos de maior responsabilidade quer seja porque a mulher pode decidir engravidar, ou já ter filhos que adoecem (é, parece que os filhos das mulheres têm uma tendência para adoecer que os filhos dos homens não têm), já para não falar na diferença salarial que existe entre homens e mulheres para o exercício das mesmas tarefas e funções.
Muito dos nossos empresários ainda não perceberam que ter uma mulher numa equipa de trabalho e com responsabilidades é uma enorme vantagem. São mais focadas, mostram elevados níveis de determinação, organização e método. Conseguem ser multifacetadas, multitarefas e chegar ao final do dia e ainda ir cuidar da casa, dos filhos, do cão, e do marido.
Ainda hoje ouvia na rádio que as mulheres portuguesas dedicam no final de um dia de trabalho cerca de quatro horas e meia a tarefas domésticas, contra apenas hora e meia dos homens. Por isso são necessárias quotas para as mulheres na política, sendo eu frontalmente contra a atribuição das quotas, não porque as mulheres não mereçam, mas porque não seria necessário se já tivesse existido uma revolução nas mentalidades. Se um homem se quer dedicar a uma carreira política não há problema, a mulher fica em casa a tomar conta das operações. Mas se uma mulher pretender fazer o mesmo, vai ter que arranjar forma de correr para fazer o jantar, meter os miúdos na cama e sair para uma reunião política.

Em jeito de conclusão, falamos de liberdades, de direitos, dos défices de democracia, e não se fala da falta de igualdade de oportunidades e de uma verdadeira revolução de mentalidades?
* Expresso de Felgueiras, Edição 152, 28 abril 2015

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