22.1.14

E depois da Troika?

O início de 2014 parece bastante mais promissor do que foi 2013 para a grande maioria dos portugueses. Apesar de ainda não se verificarem melhorias no bolso de cada um de nós, e ainda estarmos a ser vítimas de cortes, especialmente a função pública, há sinais positivos na economia que, a continuarem no sentido da melhoria, vão permitir uma recuperação económica e sairmos preparados para o período pós-troika.
Mas será que a saída da troika do país representará o fim dos sacrifícios? Voltaremos às velhas formas de gerir os dinheiros públicos com as consequências que todos nós sabemos? Espero, sinceramente, que não. Espero que tenha valido a pena o sacrifício de uma geração para que as próximas consigam alavancar este grande país, com enormes potencialidades e gente capaz de, em momentos de grande exigência, demonstrar que somos capazes de ultrapassar os maiores obstáculos e dificuldades.
Mas voltaremos ao tempo em que se alimentava a máquina do estado com mais e mais funcionários, com serviços cheios de gente e outros com enorme falta de funcionários? O estado deve repensar a sua forma de contratar, não cortando em absoluto, mas ajustando as necessidades de contratação tal como o setor privado faz. E fará sentido empresas do estado que dão milhões de prejuízo a cada ano, que sejam mantidas a todo o custo quando nem sequer fazem parte de um desenvolvimento estratégico nacional? Valerá a pena continuar a manter subsídios de assiduidade a alguns funcionários das empresas de transporte, quando a assiduidade é uma obrigação decorrente de um contrato de trabalho? Eu bem sei que temos a questão dos direitos adquiridos, da nossa Constituição e das greves que o setor dos transportes públicos faz dia sim, dia não, prejudicando milhares de pessoas e aumentando o buraco financeiro da empresa em mais uns milhões. Mas em rigor e pelos estudos de opinião a grande maioria dos portugueses concordam com o fim destas regalias e contra a disparidade entre o setor público e o privado, e mesmo dentro do setor público há um sem número de diferenças, dependendo do setor do estado em que se trabalha.
Continuaremos a ser um país gastador do que não tem, deixando para as gerações futuras o ónus do pagamento como acontece hoje com as famosas Parcerias Público-Privadas, hipotecando todo um futuro de uma geração? Continuaremos a sobrepor autoestradas em trajetos já existentes, com custos enormes para o estado? Continuaremos a aumentar o buraco social que já é enorme na nossa sociedade?

Eu sei que são muitas questões que aqui coloco mas que todos nós devemos procurar encontrar uma resposta e decidir se queremos fazer parte da solução ou do problema. Por norma ninguém gosta de ver a sua rotina mudada, nem a sua vida alterada, mas será que não conseguimos colocar encontrar de novo o caminho tal como fizeram os ratinhos Sniff e Scurry, personagens da famosa obra de Spencer Johnson “Quem mexeu no meu queijo?”
Expresso de Felgueiras, 22 jan'14