O Zé (nome fictício) era um daqueles miúdos nascidos e criados num bairro social, que tinha na altura 13 anos. Era um daqueles putos irreverentes que quando partia a vidraça da casa do vizinho, não fugia, ficava ali a vê-lo enfiar a cara no buraco do vidro e a desfiar uma série de insultos, próprios de um filme português, ameaçando pregá-lo a uma cruz de cabeça para baixo. Não temia nada, nem ninguém. As nossas vidas cruzaram-se porque nessa altura, e a convite de um amigo meu monitor numa associação juvenil, estava a dinamizar a secção de xadrez da dita que funcionava num bairro social, que como todos os outros tinha, e tem, os seus problemas.
De inicio os putos, Zé incluído, olhavam para o tabuleiro de xadrez como quem olha para um brinquedo futurista, mas ao fim de uma semana era vê-los a jogar. Com eles vinham também alguns miúdos de etnia cigana, com quem faziam parelha, discutiam e até analisavam partidas (!!). Mas o Zé, não falava, não dizia nada, apenas observava e jogava com os outros miúdos, que ao fim de pouco tempo já estavam fartos de perder com ele. Até que um dia, no seu melhor estilo rezingão me lançou o desafio. – Queres jogar comigo? A forma de jogar era a mesma com que estava na vida, desafiador, sempre ao ataque e de todas as vezes eu derrotava-o – para o fim eram menos - e explicava-lhe como devia ter feito: ter calma, desenvolver as peças, o jogo e depois atacar, ter bases, como na vida. Ele não dizia nada, apenas jogava, observava, ouvia. Passei a emprestar-lhe livros, que ele lia, treinava. Tal como no jogo, na vida passou a ficar mais calmo, federei-o em conjunto com outros e formei uma equipa que inscrevi no campeonato. Ele progrediu e ficou um dos mais fortes jogadores da equipa. Quando o xadrez acabou por falta de apoios perdi-lhe o rasto. Até ontem, quando o vi, com a mulher e o filhote que levava ao colo a uma consulta no pediatra. Falou calmamente, confiante do alto dos seus quase 2 metros de altura, emprego estável, família também. Acho que aqueles tempos mudaram a vida dele… e a minha também. Gostei de te ver.
De inicio os putos, Zé incluído, olhavam para o tabuleiro de xadrez como quem olha para um brinquedo futurista, mas ao fim de uma semana era vê-los a jogar. Com eles vinham também alguns miúdos de etnia cigana, com quem faziam parelha, discutiam e até analisavam partidas (!!). Mas o Zé, não falava, não dizia nada, apenas observava e jogava com os outros miúdos, que ao fim de pouco tempo já estavam fartos de perder com ele. Até que um dia, no seu melhor estilo rezingão me lançou o desafio. – Queres jogar comigo? A forma de jogar era a mesma com que estava na vida, desafiador, sempre ao ataque e de todas as vezes eu derrotava-o – para o fim eram menos - e explicava-lhe como devia ter feito: ter calma, desenvolver as peças, o jogo e depois atacar, ter bases, como na vida. Ele não dizia nada, apenas jogava, observava, ouvia. Passei a emprestar-lhe livros, que ele lia, treinava. Tal como no jogo, na vida passou a ficar mais calmo, federei-o em conjunto com outros e formei uma equipa que inscrevi no campeonato. Ele progrediu e ficou um dos mais fortes jogadores da equipa. Quando o xadrez acabou por falta de apoios perdi-lhe o rasto. Até ontem, quando o vi, com a mulher e o filhote que levava ao colo a uma consulta no pediatra. Falou calmamente, confiante do alto dos seus quase 2 metros de altura, emprego estável, família também. Acho que aqueles tempos mudaram a vida dele… e a minha também. Gostei de te ver.
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