29.5.16

Interesses

I – Veio, por estes dias, o PS Felgueiras através de um comunicado à imprensa, dar nota da sua visão e posição sobre as contas da autarquia. Optou o PS por fazer oposição nos jornais e redes sociais, sem direito a contraditório, extraindo de um documento técnico apenas alguns (poucos) números menos favoráveis, em vez de o fazer na última Assembleia Municipal – onde se absteve na votação -, local próprio para o debate democrático e onde teria a visão global do documento e o necessário contraditório, preferindo intoxicar a opinião publica com uma visão redutora e deturpada da realidade.
Vejamos; não se pode falar apenas dos impostos, que são uma parte da receita da autarquia, mas sim de toda a receita que tem descido consecutivamente todos os anos, fruto dos cortes do governo após a intervenção externa no país depois de anos de desgoverno socialista. É necessário dizer que a receita total da autarquia teve, pela primeira vez, um crescimento marginal de apenas quinhentos mil euros em relação a 2014. É necessário informar que a despesa total teve uma diminuição de 1,7 milhões de euros e a corrente diminuiu 2,7 milhões de euros. Os munícipes também devem saber que o passivo total da autarquia era, em 2009, ano em que o PSD e o seu parceiro de coligação ganharam as eleições, de 23,6 milhões de euros sendo no final de 2015 de 12,6 milhões, uma diminuição de 11 milhões de euros! A herança socialista deixada no concelho foi pesada. Mas há mais indicadores que, no conjunto, permitem aferir da saúde das contas da autarquia. A poupança corrente aumentou 3,5 milhões de euros e o investimento que a autarquia realizou foi de 9,1 milhões de euros! É que o concelho não vive apenas de obras faraónicas, há obras em todas as freguesias do concelho, por vezes de aparente pouca importância, mas que vão resolver os problemas de dezenas ou centenas de munícipes.
Em jeito de conclusão. Para quem no início do primeiro mandato herdou taxas de execução orçamental na ordem dos 53% e em 2015 chega aos 70%, quem em 2009 tinha um prazo médio de pagamento a fornecedores de 67 dias e hoje é de 25 dias, quem tem capacidade de endividamento junto da banca superior a 30 milhões de euros, julgo que não será por as suas contas conterem algum risco.
II – Ponto prévio: Sou totalmente a favor da iniciativa privada, da capacidade de empreendedorismo, da constituição de novas sociedades e formas de negócios, criadoras de valor e emprego no concelho e no país. Já há muitos anos atrás contou-me um amigo, com a experiência que a idade já lhe dava, uma situação que tinha lhe tinha sucedido. Na altura em que era moda tentar enganar os amigos do alheio, no que ao roubo de automóveis diz respeito, com um pequeno led vermelho a piscar sem se ter, na verdade, o respetivo alarme, ele, numa exposição automóvel em que estava presente uma famosa marca de alarmes, resolveu pedir ao comercial ali presente um autocolante para colar no vidro uma vez que tinha sido assaltado e, vejam lá, tinham-lhe partido precisamente o vidro onde estava o autocolante. Simpaticamente o comercial respondeu que tinha todo o gosto em lhe entregar novo autocolante, só precisava do livrete e da referência do alarme para verificar. O meu amigo disse que ia ao carro buscar e não mais lá voltou. No final da estória, rematou a lição que tirou “os outros são tão inteligentes quanto eu e, por vezes, um bocadinho mais”. Não vale a pena andar com floreados e rodriguinhos quando queremos algo, basta dizer, porque o outro já está a ver onde queremos chegar.
E onde eu quero chegar é à criação de uma polémica artificial à volta da falta de cursos na recém criada escola privada, designada por “Escola Profissional do Tâmega e Sousa”. Resumindo a coisa: a EPTS entende que os cursos profissionais que foram distribuídos pelo ministério, às escolas que sempre tiveram cursos, como o Agrupamento da Lixa, a Escola Secundária de Felgueiras, a Escola Profissional de Felgueiras, o Agrupamento de Felgueiras (Lagares e Pombeiro) e o de Idães, deviam abdicar dos cursos e das turmas a favor da EPTS! Mais, depois de uma reunião havida com todos os diretores em que, questionados diretamente, pelo representante da tutela se estavam na disposição de abdicarem de algum dos cursos, todos, sem exceção, disseram que não. Posto isto veio a estratégia da desinformação, da tentativa de atribuir responsabilidade à autarquia, do arregimentar da população da Lixa através das redes sociais, dizendo que a medida era contra a Lixa e mais recentemente, através de meias palavras, que é contra determinadas pessoas.
Nada mais errado; o Agrupamento da Lixa ficou com o mesmo número de cursos que já tinha, assegurando, como tem vindo a ser feito, a oferta formativa. A Lixa e os lixenses não ficam de forma alguma prejudicados! Só se compreende tal argumento através de uma tentativa política do uso dos lixenses, apelando ao seu famoso (e saudável) bairrismo, por parte do vereador (agora com mandato suspenso) Bruno de Carvalho, sócio da escola privada EPTS.
Da mesma forma que a EPTS e, especialmente, alguns sócios podem tirar ilações mais ou menos ficcionais, também podemos todos nós entender que um vereador que no passado tanto criticou as ações da EPF, que iria fechar, que não teria cursos, que os professores seriam despedidos tendo-se verificado precisamente o contrário, venha agora criar uma empresa na mesma área, sabendo como sabia, das limitações impostas pelo Ministério da Educação. É que se não é de propósito, parece. Dizem as regras da gestão e já agora as do bom senso, que antes de criar uma empresa é preciso conhecer o mercado e este já estava esgotado. Mas para quem, no seu exercício como vereador pelo partido socialista, despediu ilegalmente cerca de uma dezena de funcionárias, causando um prejuízo à empresa municipal de cerca de 300 mil euros e depois defende outras situações terá, com certeza, uma agenda própria e bem definida.
Seria muito mais benéfico ver o PS a fazer oposição nos locais próprios, em democracia, do que a desinformar os felgueirenses. Seria também aconselhável ver o PS a defender o concelho e não os interesses privados dos seus dirigentes a coberto de que estão a fazer mal às boas gentes da Lixa. Essas não merecem ser usadas. Em jeito de nota final que já vai longa a crónica. Até o timming não correu bem. Na mesma altura em que o governo socialista tira aos colégios privados as turmas onde existe oferta pública, os socialistas de Felgueiras queriam que fossem retiradas turmas ao público para colocar no privado. Interessante.
[Expresso de Felgueiras, 27 maio 2016]

Sem comentários: